quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Posted by RDTD On 13:58

A política segundo a perspectiva de Maquiavel

Uma breve análise da carta dedicatória ao Príncipe




Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália, em 1469. De uma família de poucos recursos financeiros, teve sua formação intelectual dentro de sua própria casa, através dos livros da vasta biblioteca de seu pai e seguiu carreira diplomática na chancelaria de Florença, até ser destituído de seu cargo durante a dissolução do governo republicano. A Itália da época renascentista passava por grandes mudanças no cenário político, e foi em meio a todos esses acontecimentos que Maquiavel, dentre outras obras de grande relevância, escreveu aquela que seria conhecida mais tarde com sua obra prima: O Príncipe.
No livro, Maquiavel, através de sua visão política, tenta não apenas dizer como o príncipe deve governar, mas principalmente, de forma extremamente realista, mostrar como o homem por natureza é mal, e com esse pensamento, tenta convencer o príncipe a manter seu governo da forma mais eficiente possível.  Com todo esse realismo, Maquiavel abandona o pensamento antigo de floreios e utopias e estabelece uma ética laica; observando os fatos, o autor faz sua opção por descrever a verdade em detrimento de ocultá-la como ocorria no tempo que o antecedeu. (AMARAL, 2012). Na mesma linha, Martins (2007), afirma que Maquiavel tem um modo novo de abordar o mundo político, ele deixa de lado a visão abstrata e diz que a política tem que ser refletida através de coisas reais, sem o misticismo pregado pelos pensadores de outrora.
Para Maquiavel o homem não é um ser social como afirmava Aristóteles, segundo seu pensamento, para atingir seus objetivos, o ser humano é capaz de se valer dos meios mais sórdidos possíveis, trapaça, corrupção, mentiras; é vingativo, egoísta, e baseia suas ações em sua necessidade de sobrevivência.
Amaral (2012), traz um outro ponto marcante sobre o pensamento Maquiaveliano, a rejeição ao legado ético cristão do período Medieval, uma ruptura com o pensamento político medieval que ligava política e religião, e que foi quebrado por Maquiavel que introduziu um novo conceito de política, ficando conhecido por isso, como pai da ciência política. Esse conceito que tem a política como uma categoria autônoma inicia uma nova discussão sobre ética e política que pode ser notada claramente no livro O Príncipe.

           
Sem dúvida, o filósofo que estudaremos está num território de contradições. Isso não poderia nos surpreender, pois todo filósofo está acostumado ao terreno movediço. A tensão se faz presente no ato de filosofar. Percebemos que a filosofia de Maquiavel ainda exerce muita influência na contemporaneidade. Encontramos uma vasta divergência entre autores que estudam o pensamento desse autor. Uns apontam para uma má interpretação no sentido de suas obras; outros diretamente acusam-no de ateísmo, paganismo, satanismo e idealizador criminoso.
Na obra intitulada “O Príncipe” nota-se a ideia geral de Maquiavel, onde deixa-se claro ao futuro líder sua posição em relação à igreja e sua ética moral com o alcance do objetivo, onde este é por muitas vezes conquistado deixando de lado o primeiro argumento.
            Maquiavel tenta apenas deixar claro em sua visão que a própria religião já conhece e sabe, que a natureza humana é corrupta, pecadora, detentora de males, e com essa base e argumentos humanos ele encara o desafio de impor sua ideia ao líder, lembra-se que a descrição que precede é apenas uma forma de escrever o que está acontecendo no momento, e, ao analisar a fundo observa-se que este mesmo sentido perdura até os dias de hoje, onde troca-se apenas os nomes.
            Já nos primeiros livros da Bíblia pode-se notar que neste mundo não há um homem que não seja propenso ao pecado, e que em determinado momento não venha a derramar sangue para cumprir o seu objetivo ou permanecer vivo.

“Os seus pés correm para o mal, são velozes para derramar o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniquidade; nos seus caminhos há desolação e abatimento. Desconhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; quem anda por elas não conhece a paz.” (Isaías 59:7-8)
“Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” (Eclesiastes 7:20).
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9)

            Poder a qualquer custo, até que ponto chega a ambição humana, se é que pode-se chamar de ambição ou denominá-la perversidade, ou até correlacionar esses dois adjetivos, nesta relação unificada observa-se a questão pessoal, onde nenhum grau parentesco ou até mesmo sentimental  é capaz de reduzir essa perversidade. Ideia esta que Maquiavel descreveu com todas as formas para o acervo intelectual do novo líder.
            À sombra da glorificação humana escondem-se rituais obscuros, onde nem mesmo a posição religiosa é capaz de atenuar, e por vezes até aumentar essa obscuridade. Homens que são vistos por olhos humildes que se elevam a status grandiosos, mas que dos olhos escorrem sangue e dor.
            Ao ler a obra de Maquiavel podemos observar que a ideia geral desta obra que é datada do século XV ainda é viva e praticada nos tempos atuais, é claro que a distinção e os meios mudaram a forma de praticar, mas no contexto tudo continua na obscuridade.
             Interação de grupos destinados ao mesmo objetivo, que com todas as armas possíveis chegam a conquistar, e ao mesmo tempo essa interação é desvinculada pelo próprio objetivo, onde é melhor ter ao comando o menor número de comandantes.
            Vãs palavras de persuasão em que momentos deleitam no horizonte a esperança, mas que a se ver acuada traz à tona a veracidade do caráter, o esquecimento, a corrupção, o egocentrismo e outros motivos individuais.
            Temor e tremor, palavras tão parecidas, mas que ao indicar o sujeito, as suas proximidades são somente nas letras que as compõem. O poder é galgado independentemente se haverá uma delas, mas antes, é mais bem usado o tremor de uns para com o único, pois quando há o tremor de vários para uma única pessoa, essa continuará com o poder ao seu bel prazer, mas se o temor que nesse momento caracteriza-se pelo respeito, admiração, amabilidade é algo perigoso. Pois até mesmo o cachorro domesticado, que tem hoje pelo seu criador o temor, quando se vê em momento de perigo, acuado pelo próprio criador, atacará com todas as forças mas, se este mesmo animal ao invés do temor ele tiver o tremor, então fugirá.
            Um evento muito comentado alguns anos atrás onde podemos fazer um paralelo com uma parte em particular da obra de Maquiavel, foi o impeachment que o ex-presidente da República Fernando Collor de Melo configurou em seu curto mandato, lembra-se do movimento denominado “caras-pintadas” onde a mídia reputou um grande movimento com força extraordinária que resultou no impeachment deste, mas sem entrar no mérito da questão podíamos ver no lado escuro a força da mídia sendo mais usada e fundamental.
            Paramos para pensar, quem foi que derrubou o ex-presidente em questão? O povo ou alguns usando o que surti mais efeito que foi a mídia? O líder que não tem ao seu lado o povo e as pessoas mais próximas de seu governo, corre o risco de ser atacado por eles.
            Nesse mesmo modo, as forças que governam todos os segmentos desde os primórdios até o presente momento, caracterizam-se de passagens e pensamentos acima relatados, ao puxar pela memória seja ela recente ou histórica apresentada em livros com folhas já amarelas, percebe-se que a visão e as formas de alcançar o poder ainda continuam com a mesma base, mudam-se os nomes, as pessoas, as roupas, os cabelos, mas, não mudam as táticas.