A política segundo a perspectiva de Maquiavel
Uma breve análise da carta dedicatória ao Príncipe
Nicolau Maquiavel nasceu em
Florença, Itália, em 1469. De uma família de poucos recursos financeiros, teve
sua formação intelectual dentro de sua própria casa, através dos livros da
vasta biblioteca de seu pai e seguiu carreira diplomática na chancelaria de
Florença, até ser destituído de seu cargo durante a dissolução do governo
republicano. A Itália da época renascentista passava por grandes mudanças no cenário
político, e foi em meio a todos esses acontecimentos que Maquiavel, dentre
outras obras de grande relevância, escreveu aquela que seria conhecida mais
tarde com sua obra prima: O Príncipe.
No livro, Maquiavel, através de
sua visão política, tenta não apenas dizer como o príncipe deve governar, mas
principalmente, de forma extremamente realista, mostrar como o homem por
natureza é mal, e com esse pensamento, tenta convencer o príncipe a manter seu
governo da forma mais eficiente possível.
Com todo esse realismo, Maquiavel abandona o pensamento antigo de
floreios e utopias e estabelece uma ética laica; observando os fatos, o autor
faz sua opção por descrever a verdade em detrimento de ocultá-la como ocorria
no tempo que o antecedeu. (AMARAL, 2012). Na mesma linha, Martins (2007),
afirma que Maquiavel tem um modo novo de abordar o mundo político, ele deixa de
lado a visão abstrata e diz que a política tem que ser refletida através de
coisas reais, sem o misticismo pregado pelos pensadores de outrora.
Para Maquiavel o homem não é um
ser social como afirmava Aristóteles, segundo seu pensamento, para atingir seus
objetivos, o ser humano é capaz de se valer dos meios mais sórdidos possíveis,
trapaça, corrupção, mentiras; é vingativo, egoísta, e baseia suas ações em sua
necessidade de sobrevivência.
Amaral (2012), traz um outro
ponto marcante sobre o pensamento Maquiaveliano, a rejeição ao legado ético
cristão do período Medieval, uma ruptura com o pensamento político medieval que
ligava política e religião, e que foi quebrado por Maquiavel que introduziu um
novo conceito de política, ficando conhecido por isso, como pai da ciência
política. Esse conceito que tem a política como uma categoria autônoma inicia
uma nova discussão sobre ética e política que pode ser notada claramente no
livro O Príncipe.
Sem dúvida, o filósofo que
estudaremos está num território de contradições. Isso não poderia nos
surpreender, pois todo filósofo está acostumado ao terreno movediço. A tensão
se faz presente no ato de filosofar. Percebemos que a filosofia de Maquiavel
ainda exerce muita influência na contemporaneidade. Encontramos uma vasta
divergência entre autores que estudam o pensamento desse autor. Uns apontam
para uma má interpretação no sentido de suas obras; outros diretamente
acusam-no de ateísmo, paganismo, satanismo e idealizador criminoso.
Na obra intitulada “O Príncipe”
nota-se a ideia geral de Maquiavel, onde deixa-se claro ao futuro líder sua
posição em relação à igreja e sua ética moral com o alcance do objetivo, onde este
é por muitas vezes conquistado deixando de lado o primeiro argumento.
Maquiavel
tenta apenas deixar claro em sua visão que a própria religião já conhece e
sabe, que a natureza humana é corrupta, pecadora, detentora de males, e com
essa base e argumentos humanos ele encara o desafio de impor sua ideia ao
líder, lembra-se que a descrição que precede é apenas uma forma de escrever o
que está acontecendo no momento, e, ao analisar a fundo observa-se que este
mesmo sentido perdura até os dias de hoje, onde troca-se apenas os nomes.
Já
nos primeiros livros da Bíblia pode-se notar que neste mundo não há um homem
que não seja propenso ao pecado, e que em determinado momento não venha a
derramar sangue para cumprir o seu objetivo ou permanecer vivo.
“Os
seus pés correm para o mal, são velozes para derramar o sangue inocente; os
seus pensamentos são pensamentos de iniquidade; nos seus caminhos há desolação
e abatimento. Desconhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos;
fizeram para si veredas tortuosas; quem anda por elas não conhece a paz.”
(Isaías 59:7-8)
“Não há
homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” (Eclesiastes 7:20).
“Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o
conhecerá?” (Jeremias 17:9)
Poder
a qualquer custo, até que ponto chega a ambição humana, se é que pode-se chamar
de ambição ou denominá-la perversidade, ou até correlacionar esses dois
adjetivos, nesta relação unificada observa-se a questão pessoal, onde nenhum
grau parentesco ou até mesmo sentimental
é capaz de reduzir essa perversidade. Ideia esta que Maquiavel descreveu
com todas as formas para o acervo intelectual do novo líder.
À
sombra da glorificação humana escondem-se rituais obscuros, onde nem mesmo a
posição religiosa é capaz de atenuar, e por vezes até aumentar essa
obscuridade. Homens que são vistos por olhos humildes que se elevam a status
grandiosos, mas que dos olhos escorrem sangue e dor.
Ao
ler a obra de Maquiavel podemos observar que a ideia geral desta obra que é
datada do século XV ainda é viva e praticada nos tempos atuais, é claro que a
distinção e os meios mudaram a forma de praticar, mas no contexto tudo continua
na obscuridade.
Interação de grupos destinados ao mesmo
objetivo, que com todas as armas possíveis chegam a conquistar, e ao mesmo
tempo essa interação é desvinculada pelo próprio objetivo, onde é melhor ter ao
comando o menor número de comandantes.
Vãs
palavras de persuasão em que momentos deleitam no horizonte a esperança, mas
que a se ver acuada traz à tona a veracidade do caráter, o esquecimento, a
corrupção, o egocentrismo e outros motivos individuais.
Temor
e tremor, palavras tão parecidas, mas que ao indicar o sujeito, as suas
proximidades são somente nas letras que as compõem. O poder é galgado
independentemente se haverá uma delas, mas antes, é mais bem usado o tremor de
uns para com o único, pois quando há o tremor de vários para uma única pessoa,
essa continuará com o poder ao seu bel prazer, mas se o temor que nesse momento
caracteriza-se pelo respeito, admiração, amabilidade é algo perigoso. Pois até
mesmo o cachorro domesticado, que tem hoje pelo seu criador o temor, quando se
vê em momento de perigo, acuado pelo próprio criador, atacará com todas as
forças mas, se este mesmo animal ao invés do temor ele tiver o tremor, então
fugirá.
Um
evento muito comentado alguns anos atrás onde podemos fazer um paralelo com uma
parte em particular da obra de Maquiavel, foi o impeachment que o ex-presidente
da República Fernando Collor de Melo configurou em seu curto mandato, lembra-se
do movimento denominado “caras-pintadas” onde a mídia reputou um grande
movimento com força extraordinária que resultou no impeachment deste, mas sem
entrar no mérito da questão podíamos ver no lado escuro a força da mídia sendo
mais usada e fundamental.
Paramos
para pensar, quem foi que derrubou o ex-presidente em questão? O povo ou alguns
usando o que surti mais efeito que foi a mídia? O líder que não tem ao seu lado
o povo e as pessoas mais próximas de seu governo, corre o risco de ser atacado
por eles.
Nesse
mesmo modo, as forças que governam todos os segmentos desde os primórdios até o
presente momento, caracterizam-se de passagens e pensamentos acima relatados,
ao puxar pela memória seja ela recente ou histórica apresentada em livros com
folhas já amarelas, percebe-se que a visão e as formas de alcançar o poder
ainda continuam com a mesma base, mudam-se os nomes, as pessoas, as roupas, os
cabelos, mas, não mudam as táticas.