Se você chegou até aqui, provavelmente leu o conteúdo das páginas anteriores e, por isso, lhe agradecemos. Acreditamos que tenha tomando conhecimento a respeito de Platão e de sua obra, Êutifron, onde descreve um diálogo entre este e Sócrates a respeito da piedade.

Para simplificar, a obra se inicia quanto Êutifron, exímio teólogo, leva seu pai a julgamento por permitir maus tratos, seguido de morte, contra um de seus escravos. Tal ação se deu pois o escravo em questão havia cometido um assassinato.
Êutifron defende sua posição em levar seu pai a julgamento pelo crime cometido, se comparando ao deus grego Zeus quando este enfrentou e derrotou seu pai, o titã Cronos. Enquanto isso, temos Sócrates, representando a razão humana, debatendo sobre a linha de raciocínio de Êutifron e utilizando de argumentos que, por fim, colocam em xeque o ponto de vista do teólogo, que desiste do diálogo.
É possível perceber, na obra, que Êutifron não busca a justiça, mas sim, deseja a punição para o pecado cometido pelo pai. Neste ponto é traçado um paralelo entre justiça humana e divina, crime e pecado, punição e despeito.

O que Sócrates tenta passar a Êutifron é que as qualidades humanas (bondade, piedade, maldade, dentre outros), são inerentes aos seres humanos, independente de religiões e credos.


Fé vs Razão



"As ações moralmente boas são moralmente boas simplesmente em virtude do fato de que Deus as favorece ou será que Deus as favorece por elas serem, independente de seu favorecimento, moralmente boas?" (Sobre Piedade, Platão, 399 a.C.).


Fé vs Razão


Depois de acalorados debates, os integrantes deste grupo chegaram a um consenso... ou quase. Ressaltamos que não temos a intenção, neste, de denegrir ou ofender qualquer crença religiosa, porém, temos que levar em conta diversos fatores que podem ser notados neste diálogo proposto por Platão. Parece um tema batido, e é. A própria obra é datada de, aproximadamente, 400 a.C. Mas ele nos leva à seguinte questão: onde termina a fé e começa a razão? 
Até hoje, mais de 2.400 anos depois da obra de Platão, há pessoas que ainda lutam pelos direitos e garantias individuais. Elas são excluídas e não aceitas como iguais, são mau acolhidas pela sociedade por esta seguir doutrinas opostas às daquelas que se sentem injustiçadas.
Em virtude desta realidade, no diálogo, tomamos o lado de Sócrates (que na obra se torna vitorioso através de seus argumentos). A fé, as crenças, as divindades, todo o aparato religioso das mais diversas religiões compõem a visão de mundo de uma determinada população, norteando sua forma de pensar e agir. Porém, as leis divinas não podem se aplicar ao ser humano que é passível de erros. Este, muitas vezes, agindo por impulso ou buscando acalentar seus sentimentos momentâneos frente uma injustiça, comete diversas outras.
Vale lembrar, também, que em cada crença existem diferentes tipos de pessoas envolvidas, integrantes com diferentes interpretações dos conceitos de "certo" e "errado" propostas pelas doutrinas religiosas. Esta capacidade de interpretação individual torna alguns mais ou menos fervorosos. Frente a esta afirmativa, vamos pensar, agora, no cenário atual: o Brasil é um Estado laico, ou seja, imparcial em assuntos religiosos, e que afirma no artigo 5º de sua Constituição que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença”. Como julgar, então, um indivíduo através das crenças religiosas de seu algoz? Isto seria justiça ou despeito?
Seguindo o raciocínio de Sócrates, a religião do indivíduo a ele pertence e deve ser respeitada, porém, não pode ser utilizada para fins de justiça, pois, maculará a mesma, tornando-a em despeito ou vingança. 
Não podemos generalizar, porém, é percebido que, na maioria das vezes, as pessoas se tornam radicais ao expressar e defender seus pontos de vista e crenças. Cabe, então, aos juízes, a imparcialidade em todos os aspectos, defendendo e respeitando a lei pelos homens criada. Sabemos que ela não é perfeita, mas é nosso dever defendê-la e  melhorá-la, agindo sempre de modo igualitário para toda a população.
Cabe ao Direito a manutenção do equilíbrio da justiça e das leis.